Open Banking: 10 coisas que você precisa saber antes de abrir seus dados
Muita gente já deve ter se deparado com várias notificações do aplicativo do banco chamando para aderir ao Open Banking. Seu gerente, provavelmente, também já tentou convencê-lo a autorizar o acesso. Mesmo em um país onde o Pix viralizou, o fato é que ainda não se pode dizer o mesmo sobre o sistema de compartilhamento de dados financeiros. Depois completar um pouco mais de um ano de implementação, o Open Banking ainda é desconhecido por metade dos consumidores (50%), segundo pesquisa recente divulgada pela Boa Vista, empresa de inteligência analítica precursora do Cadastro Positivo, que indica também que só duas em cada dez pessoas (21%) afirmaram que conhecer o tema suficientemente para optar por abrir ou não seus dados para instituições bancárias concorrentes. Outros 29% já ouviram falar sobre o sistema em algum momento.
Mas, afinal, o que é o ‘Banco Aberto’? Regulamentado em 2019, o Open Banking teve sua fase final de implementação concluída só em maio deste ano. O economista da Boa Vista Flavio Calife é quem esclarece, em linhas gerais, como o sistema funciona: “O Open Banking é uma inovação regulatória que permite que os correntistas de um banco disponibilizem seus dados para as instituições financeiras concorrentes. A medida busca disponibilizar para o consumidor com histórico de pagamentos em dia, ofertas de empréstimos com juros mais baixos, melhores condições em cartões de crédito e seguros, entre outros produtos bancários”, explica.
No entanto, a moeda de troca é o acesso a suas informações financeiras. E em tempos de vazamento de dados pessoais e golpes, dá para entender o porquê de 51% dos entrevistados se declararem indecisos quanto à adesão, mesmo que haja a promessa de oportunidades de crédito a taxas de juros mais competitivas. Entre os principais motivos estão o receio sobre o sistema (27%), a falta de clareza sobre como poderão ter acesso aos benefícios (23%), dúvidas sobre como as informações serão compartilhadas e utilizadas (20%), ocorrência de fraude (20%) e por se tratar de um serviço não obrigatório (10%).
O estudo da Boa Vista ainda abordou em quais situações esse compartilhamento seria autorizado, visto que 48% dos consumidores admitiram estar dispostos a ceder seus dados caso consigam melhores condições na contratação de crédito. Nesse ponto, o cartão de crédito registrou 57% das menções, seguido de empréstimo pessoal (49%), financiamento imobiliário (44%) e financiamento de automóvel (42%). Mas quais as vantagens e desvantagens do Open Banking? Antes de decidir aderir ao sistema, vale a pena conferir o tira-dúvidas que preparamos em conjunto com especialistas das áreas de finança, consumo e segurança cibernética. Ele traz 10 questões importantes sobre tudo o que o consumidor precisa saber sobre o sistema financeiro aberto. Confira.
1. O que é importante saber sobre o Open Banking?
Segundo dados do Banco Central (BC) até o momento, já são mais de 250 milhões de interações digitais de comunicação entre bancos (chamadas de API) por semana e mais de seis milhões de consentimentos ativos de clientes que aderiram ao Open Banking. Sócio titular da JLRrodrigues & Consultores Associados e presidente do Conselho da Associação Brasileira de Fintechs (Abfintechs), José Luiz Rodrigues destaca que quanto mais completo for o cadastro do cliente, mais dados ele irá fornecer para uma melhor análise de produtos e crédito.
“Antes, a gente tinha uma bagunça de dados. Mas a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) empoderou o consumidor a passar suas informações para quem ele quiser. Quando se fala em Open Banking, a definição está na disponibilidade de compartilhar seus dados do jeito que permitir. Essa adesão não conflita com a LGPD, porque o sistema tem a legislação na sua base”.
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2. Todos os bancos participam, inclusive, os digitais?
Bancos, instituições financeiras, instituições de pagamentos, fintechs, corretoras de investimentos e corretoras de seguros que funcionam sob regulamentação do Banco Central podem participar, como esclarece o head de Open Finance do PicPay, Thiago Alvarez. “É importante entender que isso não significa que os dados serão todos públicos, mas que as pessoas terão controle para compartilharem com a instituição que desejarem e quando quiserem. Historicamente, as instituições financeiras eram as donas dos dados dos clientes, o que diminuía a competição do sistema como um todo. Agora, o sistema devolve para o cliente o poder que ele tem sobre seus dados”.
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3. O que muda com esse ambiente?
O educador financeiro e criador da Cespe Educação Financeira, Tiago Cespe, pontua que a maior trans- formação é realmente essa questão de relacionamento com o banco e acesso a suas movimentações. “Então, se você tem uma conta em uma instituição financeira há 20 anos, uma conta em outro banco há cinco e irá abrir uma nova conta em mais um lugar, não vai precisar começar novo um relacionamento do zero. Quando você escolhe fazer parte do Open Banking, essa nova instituição passa a ter a visão geral do seu histórico”.
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4. O cliente é obrigado a aderir ou o Open Banking é facultativo?
A adesão é facultativa e a permissão pode ser cancelada sempre que o cliente quiser. O coordenador de cibersegurança do Grupo New Space, Daniel Fidelis orienta a quem optar pelo compartilhamento de informações, ler com atenção todos os termos para saber exatamente para quem, como e quais tipos de dados serão autorizados a serem compartilhados entre o banco (A) e o banco (B).
A New Space é especializada na oferta de serviços e soluções de tecnologia aplicada a segurança cibernética. “Tenha muito cuidado e atenção com eventuais recebimentos de SMS, ligações ou contatos desconhecidos pedindo autorização para esse fim. O processo de compartilhamento só deve ser feito em seu aparelho celular ou computador. Procure também operar com instituições confiáveis, pesquisando sempre o histórico e a autorização do Banco Central, para evitar o risco de golpes e fraudes”, aconselha.
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5. Como e quais as informações são compartilhadas no banco aberto?
Quem responde a essa questão mais uma vez é o head de Open Finance do PicPay, Thiago Alvarez. Mediante aprovação prévia do consumidor dados pessoais, financeiros e bancários como, por exemplo, extrato da conta e cartão de crédito, empréstimos contratados, históricos de movimentações, renda, seguros e investimentos, as informações ficam disponíveis para outras instituições. “Os dados compartilhados podem variar de uma operação para outra, de modo que é dever da instituição esclarecer as finalidades das informações que serão compartilhadas”, ressalta.
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6. Em tempos de dados pessoais vazados e golpes digitais, o Open Banking é realmente seguro?
O coordenador de cibersegurança do Grupo New Space, Daniel Fidelis explica que a proteção ou a segurança do Open Banking é implementada por meio de API (Application Programming) interface, protegidas por tokens, autenticação e utilização de protocolos de criptografia ponto a ponto, bem como ainda pelo uso de protocolo HTTPS para web e outras estratégias de segurança. Porém, os cibercriminosos sempre estão de olho em qualquer oportunidade e vulnerabilidade.
“Quando falamos de segurança cibernética, é muito difícil – para não falar impossível – afirmar que algo é 100% seguro, incluindo o Open Banking. O sistema tem passado por diversos testes, avaliado constante- mente pelo comitê regula- tório do Banco Central, da Febraban e tem sido pauta frequente dos maiores eventos de segurança cibernética em todo o país. E o que observamos até o momento é que, sim, equipa- do com as melhores práti- cas de segurança e aliado a outras medidas como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o Open Banking vem se demonstrando seguro”, comenta Fidelis.
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7. Quais os benefícios do Open Banking?
Para a educadora em Finanças Pessoais e também multiplicadora do programa Eu e meu Dinheiro do Banco Central, Carol Stange, ter seus dados integrados através do Open Banking pode significar menos cadastros em diferentes plataformas. “Os benefícios também abrangem os investidores, que podem acessar seus rendimentos e aplicações através da conexão com sua carteira. O Open Banking nasceu para tornar o sistema financeiro mais acessível”, afirma a especialista.
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8. Por outro lado, o que o consumidor precisa avaliar antes de decidir aderir ou não?
O sistema se propõe a garantir um ambiente seguro, mas a economista e coordenadora do programa de serviços financeiros do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim ressalta que já houveram muitas falhas e vazamentos de dados em diversos campos, apesar de a LGPD forçar essas instituições a adotar medidas mais rígidas de controle.
Por isso, o consumidor precisa ficar atento e pesquisar antes sobre as empresas antes de autorizar a transferência de seus dados para determinados serviços. “É importante saber sobre a idoneidade da empresa, o histórico de reclamações, qual o segmento onde atua e como é o seu desempenho no setor”.
O consumidor precisa manter o alerta para o risco de transações não realizadas e serviços não contratados. “Para saber o que está acontecendo com suas contas, além do próprio controle, existe o acesso aos dados do
Banco Central através do serviço ‘Registrato’ por meio do site https://registrato.bcb.gov.br”, completa.
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9. O que é necessário ter cuidado? Quais são também os riscos e as desvantagens do Open Banking?
Com a integração de informações entre as instituições, o ambiente concorrencial fica mais agressivo. Os consumidores serão mais assediados a experimentar novos ofertantes de serviços, como alerta ainda a economista do Idec, Ione Amorim. “Apesar da inovação e do ambiente concorrencial, não há garantia de que os preços serão menos e mais justos”.
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10. Qual o próximo passo do Open Banking?
O desdobramento mais avançado, ou melhor, a evolução do Open Banking é o Open Finance, que prevê a integração de serviços não bancários ao modelo, incluindo aí seguradoras, corretoras de investimentos, câmbio e previdência. É o que adianta, o presidente do Conselho da Associação Brasileira de Fintechs (Abfintechs), José Luiz Rodrigues. “O Open Finance vai significar a conexão desses produtos – seguros, aplicações e investimentos – com os bancos e todo sistema financeiro. Por isso, é importante que os usuários entendam, quanto antes, como usar o Open Banking”, reforça Rodrigues.
DICAS PARA PROTEGER SEUS DADOS FINANCEIROS
. Adesão O aceite para compartilhamento dos dados é realizado pelo próprio banco, por meio do site ou aplicativo da instituição, que, por sua vez, não vai pedir o seu cadastramento em formulário, ligações telefônicas ou envio de mensagens.
. Códigos e senhas Nunca repasse qualquer tipo de código de segurança ou senha, de nenhuma natureza ou procedência, para ninguém. Mantenha o antivírus sempre atualizado.
. Rede Nunca acesse qualquer tipo de serviço financeiro conectado em redes Wi-Fi públicos, como de aeroportos ou cafeterias.
. Segurança Esteja sempre atento e escolha criteriosamente as instituições financeiras que deseja fazer transações, obter análise de crédito ou de custos para portabilidade de dívidas.
. Excessos Denuncie na própria instituição financeira, por meio do SAC, qualquer tipo de abordagem indesejada.
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